Este blog tem estado meio abandonado porque o Wand tem estado muito ocupado para que seu destino seja realmente fabuloso!! E, embora as atualizações continuem acontecendo por aqui, o destino de Wand é agora:
Façam as malas, carimbem os passaportes e embarquem.
Filme no avião: Trainspotting CDs que você deve levar para a viagem: Everything But The Girl, The Smiths, Jamiroquai, David Bowie, New Order, Underworld, Primal Scream, RadioHead, Blur e The Cure.
Chegamos em frente a Tunnel, o tal cara bombado ainda estava na porta, comentei sobre o cara, e ele disse: “estes caras são todos gaviões”. Por que será que ele disse isso? (pensei eu), fiquei bastante intrigado com o comentário. A princípio ele não havia despertado nenhum interesse em mim e depois do comentário eu não entendi se ele havia dito isso porque o cara devia ser o fim mesmo ou porque o cara estava me paquerando.
Entramos, a noite tinha tudo para ser um grande fracasso (eu imaginava que seria difícil travar algum diálogo com ele), “por e-mail nós praticamente não conversávamos imagina agora cara-a-cara”. E ao contrário do que eu estava pensando a noite não foi um terrível martírio. Dançamos a noite toda e quando paramos por alguns minutos para conversar eu percebi que não teria muito assunto com eles e foi justamente isso que despertou a minha curiosidade em relação a eles.
Aquela noite ainda promoveu vários momentos inusitados, como quando a Janaina veio me dizer que o Leonardo queria ficar comigo. Eu não iria ficar com ele por várias razões e uma delas era: eu estava decidido a não ficar com ninguém, fora que ele era amigo do Cláudio.
Eles (o Leonardo e a Janaina) foram embora e nós (eu e o Cláudio) ainda ficamos lá, eu porque o metro não havia aberto ainda e ele provavelmente porque não quis me deixar sozinho, ao menos foi isso que eu pensei. E depois que eles se foram nós ainda ficamos lá, dançando, dançando, dançando, o metro já estava funcionando e mesmo assim nós hesitamos em ir embora já que a pista fica bem mais agradável quando vazia. Mas chegou o momento em que já era patético permanecer ali, então resolvemos ir embora.
Fomos conversando até a entrada do metrô e como eu devo ter algum distúrbio de personalidade, em alguns momentos eu imaginava como seria transar com ele enquanto eu contava as minhas experiências desastrosas em relacionamentos anteriores e (o que é óbvio) me fazia de santo, contando o que havia acontecido com o Marcelo e o Cristian. Nos despedimos e mesmo eu estando com aquela minha resolução de não ficar com ninguém, fiquei um pouco frustrado por não ter levantado nenhum interesse nele e talvez por isso mesmo ele tenha se tornado bastante interessante pra mim.
Depois que desliguei o telefone falei com o David que eu iria sair mais cedo porque tinha que ir pra casa tomar banho e trocar de roupa. E ele me disse que nós teríamos prova na próxima aula, ótimo, como eu ia fazer agora? Por que foram marcar essa porra de prova justo para hoje? Eu não podia ir encontrar o garoto daquele jeito. Sim, eu me preocupava e muito com primeira impressão! Claro que antes de acabar a prova eu já havia pensado na solução perfeita para os meus problemas.
Sai da escola por volta das 10h, sai correndo e fui até o shopping D, comprei um aparelho para fazer a barba. E agora? O único problema é que o shopping estava fechando, logo eu não poderia usar o banheiro do shopping como eu havia planejado! O que fazer? Pensei rápido, sai correndo, atravessei a ponte e fui direto para a rodoviária do Tietê! Naquele momento eu tinha dois rumos a dar para a minha vida, eu poderia ter desencanado e furado com ele já que eu estava ali, ha apenas um ônibus de distância da minha casa, mas eu não fiz isso.
Fui até o banheiro, paguei cinqüenta centavos e não tinha nem tempo para ter vergonha. Primeiro, eu fiz a barba usando o sabonete líquido (do próprio banheiro) e o meu aparelho novo de barbear. Depois eu coloquei a minha camisa nova, o relógio marcava 23h15 e eu havia marcado 24h em frente a Tunnel, corri um pouco mais. Apesar de todos já estar olhando torto para mim lá dentro do banheiro, não me intimidei e coloquei as minhas lentes de contato azul (o fim isso!), sai do banheiro como se fosse um personagem de alguma novela e fui correndo para o metrô, já eram quase umas 23h45 agora.
Sai correndo e estava desesperado porque não gosto de deixar ninguém esperando, ainda mais que eu nem conhecia o garoto. Fui no metro imaginando como ele deveria ser, lembrando das suas palavras ao telefone, “bichinha eu já sei que ele não é”, “será que ele é bonito?”, “como será” e ao mesmo tempo eu me policiava, tinha me decidido a não entrar em outro namoro e aquela era a oportunidade de fazer mais um amigo, estava numa fase muito sociável.
Cheguei no local marcado, no horário marcado. O Cláudio já estava lá? Claro que não né, eu já estava conhecendo assim uma das características mais marcantes dele: chegar atrasado. E eu devo ter ficado lá esperando por pelo menos meia hora. E enquanto eu esperava, encontrei o Danilo (ex do Ricardo), fiquei conversando com ele até ele entrar, depois dele veio um outro cara, bem bombado, devia dar uns dois de mim, perguntou se eu não iria entrar, eu disse que não, que estava esperando um amigo, ele insistiu dizendo que o meu amigo não viria, mesmo assim eu preferi esperar.
Vejo um garoto com uma calça preta, blusa azul passar por mim. Depois volta e fica olhando lá para o final da rua ali parado na minha frente, a aparência combinava com a voz, perguntei:
Wand: - Você é o Cláudio?
Cláudio: -Sim.Você é o Wanderlei?
Wand: - Sim.
Cláudio: -Acho que o meu amigo acabou de passar por mim de carro, vamos até o carro dele?
Wand: - Vamos.
O amigo dele era o Leonardo e estava com mais duas amigas, a Janaina e uma outra que a única coisa que me recordo é que trabalhava na Metropolitana. Ficamos falando sobre internet, nicks, sobre encontros e outras bobeiras e fomos para a Tunnel.
Como já foi dito anteriormente, eu tinha um perfil no “amigos virtuais” do UOL. Como eu já havia espantado todo mundo por causa da minha indiferença (que só existia na verdade porque eu estava namorando), só tinha um e-mail do Éden e um outro do Cláudio. Nem contei o que aconteceu direito para o Éden (que era o que eu mais conversava), só disse que não estava mais namorando e o Cláudio havia me mandado uma mensagem bem indiferente também, algo que deixava a entender que ele não me escreveria mais e se eu ainda quisesse conversar com ele que fosse atrás. Prontamente respondi o e-mail na maior cara de pau, dizendo que se ele não quisesse mais falar comigo que falasse com todas as letras, me fiz de puto, que não gostei do jeito que ele me escreveu.
A noite disse ao David tudo o que havia me acontecido e ele ficou mais arrasado que eu e ficou impressionadíssimo com a forma que eu estava lidando com aquilo tudo. No final das contas a gente acabava mesmo é falando mais a respeito dele do que de mim já que ele é extremamente “narciso” e tinha uns problemas maiores que o meu já que ele era tão encanado com o que os outros (leia sua mãe) pensavam a respeito dele.
Na terça feira os dois (o Cláudio e o Éden) me escreveram e desta vez foi o e-mail do Cláudio que me deixou mais empolgado, acho que ele ficou meio indignado com a forma que escrevi para ele dizendo que ele é quem não estava a fim de escrever para mim enquanto o que estava acontecendo era justamente o contrário. Passei o numero do meu celular para ele caso quisesse me ligar. Os meus e-mails com o Éden já eram diários e chegava até ser divertido porque ele me contava tudo o que havia feito por aqueles dias sem ao menos me conhecer pessoalmente.
Na quarta feira seria véspera de feriado e como eu sempre chegava na federal duas horas antes de começar as aulas resolvi fazer compras. Um pouco porque eu acreditava que uma mudança na minha vida me faria muito bem, então sai, comprei calça, camisa, sapato e comprei até uma lente de contato azul (isso é o mais cômico com certeza) e fui para a escola com a minha mochila (a mesma que ainda hoje vive lotada e que vivem perguntando o que tanto eu carrego nela) lotada de coisas.
No meio da segunda aula meu celular tocou:
Wand: - Alô.
Cláudio: - Wanderlei?
Wand: - Sim.
Cláudio: - É o Cláudio. Você não tem um outro telefone para que eu possa ligar, é que não posso ficar falando muito tempo no celular.
Wand: - Não tenho, estou no meio de uma aula.
Cláudio: - Você quer ir a tunnel hoje?
Wand: - Hoje? Eu até queria ir, mas estou todo largado (na verdade nem estava assim tão largado). E eu não queria ir a tunnel, não quero ver um povo que está por lá.
Cláudio: - Eu também só saio bem largado quando saio a noite! Você quem sabe.
Wand: - Sei lá, de qualquer forma eu vou! Qualquer coisa eu saio mais cedo da aula, não gosto mesmo dessa matéria.
Cláudio: - Como você vai estar vestido?
Wand: - Não sei porque acho que vou passar em casa.
Cláudio: - Beleza, vou estar com um sueter da Ellus.
Wand: - O que?
Cláudio: - Vou estar com uma calça preta e com uma blusa da Ellus, você vai perceber.
Wand: - Então ta, nos encontramos lá então, mas que horas?
Cláudio: - Marquei 24h00 com uns amigos meus. Tudo bem pra você?
Wand: - Sim.
Assunto: Re: Beijo!!!
Autor: Léo na INTERNET_GATEWAY
Data: 05/02/2001 23:30
Adorei o Beijo!
Vou guardar com muito carinho!!!
Estou morrendo de saudade! De você e do Wand Quarta - Feira dia 07?02, vai ser a minha colação... foi tudo de ultima
hora
e só fiquei sabendo no domingo quando estava em Ibiúna... é só
formalidade
sei que esta em cima da hora, mas se quiser estão convidados! Será no
Salão
Nobre da Metodista as 20:00.
Sei que estou meio distante, mas são problemas que logo vou superar!
Amo vocês!
BEIJÃO.
Léo.
Se atentarmos para as datas, veremos que esse e-mail é do início do ano passado e depois desse eu só encontrei com o Leonardo mais umas duas vezes, fora que Laços de Família já havia terminado há muito tempo!
E ele me contou, disse que o Marcelo havia feito a tal comemoração de aniversário e que tinha ficado com outro cara e que não satisfeito por ter ficado com o garoto ele o levou para sua casa. Contou também o que ele dizia a meu respeito e sobre as coisas que fizemos durante o nosso namoro.
Fiquei puto a principio, depois comecei a achar que o Marcelo havia se tornado alguém mais interessante, afinal ele não era mais assim tão santinho, depois fiquei com ódio dele por ter feito isso comigo e por fim decidi vingar-me, iria ficar com alguém na frente dele e de preferência alguém bem feio para que ele se sentisse humilhado.
E assim eu fui para a casa do Ricardo como se não soubesse de nada, disse tudo o que o Danilo havia feito na noite anterior na esperança de que ele me contasse o que o Marcelo fez na Sexta feira como uma retribuição, ele não o fez, não disse uma palavra sequer e quando eu perguntei o que ele fez na sexta feira ele simplesmente me disse que ficou em casa. Mentiroso, esta na minha lista negra.
Fomos encontrar o Marcelo na tal loja de conveniência que ele trabalhava e eu comi o máximo de “talentos” (o chocolate) que eu pude, bebi bastante refrigerante, comi os meus salgadinhos e ainda pedi pra levar alguns bombons. Fomos para a Tunnel e chegando lá encontramos o Danilo, pedi para ele não contar nada ao Marcelo que eu sabia e ficamos dançando, eu paquerava outros garotos na frente dele sem o menor pudor.
Mas não iria fazer aquilo porque se o fizesse todos iriam achar que eu quem era o errado e decidi fazer algo que o deixasse pior. Como eu era amigo dos amigos dele resolvi fingir que tinha acabado de ficar sabendo e colocar todos contra ele. Mas para comover os outros eu precisava chorar, como eu conseguiria fazer isso? E não sei porque, mas eu chorei, chorei de raiva e fiz o meu numero.
E assim aquela noite tornou-se uma das mais chatas, provavelmente eu estava dopado, ou sei lá o que, porque não consigo entender até hoje o porque daquela cena toda e eu consegui fazer com que todos ficassem com raiva dele, e quando ele quis falar comigo eu disse que não tinha o que conversar com ele (uma reconciliação estragaria todo o meu plano).
Fui embora com um amigo dele que me deu carona e continuava repetindo que não conseguia entender o porque dele ter feito isso comigo, me fiz de transtornado, uma verdadeira novela mexicana e enquanto eles estavam comigo eu tinha que me fazer de coitadinho para que eles todos ficassem contra o Marcelo, mas depois quando eu fiquei sozinho, sei lá, não sabia o que pensar, talvez não tivesse sido assim tão grave o que o Marcelo fez, mas eu não estava mais a fim de continuar com ele e no fundo, mas bem no fundo mesmo eu estava me sentindo aliviado.
Eu vou atravessar o rio a deslizar
que me separa de você
o tempo atravessa em meu lugar
E deixo pra depois oque eu tenha que fazer
o destino aceito
sem dizer sim ou dizer não
Sem entender
E fica a sensação de saber exatamente porque menti
Eu sei de onde vim e pra onde irei
Mas com você fico sem saber onde estou
Nos dois que sequer nos parecemos
e não cabemos num mesmo espelho
mas nos olhamos toda manhã
A ferrugem mesmo pouca
Corrói os trilhos As ruas nos atravessam
Sem olhar pro lado
Estou em você
Quem de nós dois (La mia storia tra le dita - Gianluca Grignani)
(versão Dudu Falcão / Ana Carolina)
Eu e você
Não é assim tão complicado
Não é difícil perceber
Quem de nós dois
Vai dizer que é impossível
O amor acontecer
Se eu disser que já nem sinto nada
Que a estrada sem você é mais segura
Eu sei você vai rir da minha cara
Eu já conheço o teu sorriso, leio teu olhar
Teu sorriso é só disfarce E eu já nem preciso
Sinto dizer
Que amo mesmo, tá ruim pra disfarçar Entre nós dois
Não cabe mais nenhum segredo
Além do que já combinamos
No vão das coisas que a gente disse
Não cabe mais sermos somente amigos
E quando eu falo que eu já nem quero
A frase fica pelo avesso
Meio na contra-mão
E quando finjo que esqueço
Eu não esqueci nada
E cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais
E te perder de vista assim é ruim demais
E é por isso que atravesso o teu futuro
E faço das lembranças um lugar seguro
Não é que eu queira reviver nenhum passado
Nem revirar um sentimento revirado
Mas toda vez que eu procuro uma saída
Acabo entrando sem querer na tua vida Eu procurei qualquer desculpa pra não te encarar
Pra não dizer de novo e sempre a mesma coisa
Falar só por falar
Que eu já não tô nem aí pra essa conversa
Que a história de nós dois não me interessa
Se eu tento esconder meias verdades
Você conhece o meu sorriso
Leu no meu olhar
Meu sorriso é só disfarce
Por que eu já nem preciso
Dadivosa (Ana Carolina, Adriana Calcanhoto e Neusa Pinheiro)
Que bom se eu fosse uma diva
Daquelas bem dadivosas
Que sai vida entra vida
Ficasse ali verso e prosa
Meu olhar beirando estrelas
A provocar sinfonias
Por todas as galerias
Imagens da minha história
E no instante preciso
Entre o mito e o míssil
Um rito um início
De passagem pro infinito
Alguém Me Disse (Evaldo Gouveia - Jair Amorim)
Alguém me disse
Que tu andas novamente
De novo amor, nova paixão
Todo contente Conheço bem tuas promessas
Outras ouvi
Iguais a essas
Esse teu jeito de enganar
Conheço bem
Pouco me importa
Que tu beijes tantas vezes
E que tu mudes de paixão
Todos os meses
Se vais beijar
Como eu bem sei
Fazer sonhar
Como eu sonhei
Mas sem ter nunca amor igual
Ao que eu te dei
O Marcelo era atencioso, gentil, conversava comigo, me levou para conhecer sua mãe e com o tempo eu me enchi dele, sim eu me enchi mesmo ele sendo teoricamente um amor e o problema era justamente esse, ele era um amor demais e acabou tornando-se alguém totalmente sem graça para mim em menos de um mês. No dia do nosso aniversário (11 de maio para quem não se lembra ou não sabe) ele disse que teria que trabalhar a noite e não daria para a gente se encontrar, como eu não estava ligando muito para ele disse que tudo bem.
No sábado seguinte ele teria que trabalhar novamente, eu resolvi sair com o David que há muito não saia e insistiu muito para que eu fosse com ele. Falei com o Marcelo e ele disse que tudo bem dizendo que o fato de eu sair sozinho não queria dizer que eu iria ficar com outra pessoa. E sei lá, naquela época eu era muito estranho, e por mais que eu não sentisse o meu coração palpitando ao lado dele eu achava que as coisas poderiam sim tornar-se mais legais com o tempo apesar de sentir-me tentado a terminar com tudo logo de uma vez.
Um mês de namoro já havia se passado desde o dia em que ele trouxe doces pra mim a primeira vez e sai com o David para comemorar o meu aniversario sozinho, mas o que eu não esperava encontrar era o Danilo, namorado do Ricardo, ficando com outro garoto ainda por cima, eu logo disse que se o Ricardo me perguntasse dele (do Danilo) eu contaria tudo o que tinha visto, mas se ele não perguntasse nada eu não diria nada e tudo ficaria assim. Dançamos, eu e o David, a noite toda, um rapaz tudo de bom quis ficar comigo, mas eu não quis ficar pensando no Marcelo, não fiquei e fui embora na mesma hora que o David.
No dia seguinte o Ricardo me perguntou se eu vi o Danilo, disse que não e combinamos de nos encontrar em sua casa para depois irmos buscar o Marcelo no trabalho dele. Desliguei o telefone e liguei para o Danilo no minuto seguinte dizendo que se ele não contasse a verdade para o Ricardo eu o faria (não queria que acontecesse a mesma coisa que acontecera com o Daniel, sim eu era bem imbecil querendo contar para o Ricardo que ele havia sido traído) e foi então que o Danilo me disse que se eu quisesse contar que contasse porque ele não me diria tudo e desligou o telefone.
Uma hora depois o telefone toca novamente, era o Danilo, perguntando se eu ainda contaria, eu disse que sim e foi então que ele me disse:
Danilo: - Não sou o único que faz essas coisas!
Wand: - E o que eu tenho a ver com isso? Eu só sei que o Ricardo é meu amigo e vou contar a ele tudo o que sei já que ele me perguntou de você.
Danilo: - Você acha que o Ricardo é um santo?
Wand: - Não sei se ele é santo, mas ele vai saber da verdade.
Danilo: - Você acha que o Marcelo, seu namorado, é santo?
Wand: - Sim.
Danilo: - Saiba que não! Ele te disse o que foi fazer na sexta-feira a noite?
Wand: - Sim, ele foi trabalhar.
Danilo: - Não foi não.
Wand: - E o que foi que ele foi fazer?
Danilo: - Ele foi a tunnel!
Wand: - E por que razão ele iria à tunnel sem me contar?
Danilo: - Foi o aniversario dele!
Wand: - Como assim?
Danilo: - Sim, foi a comemoração do aniversario dele!
Wand: - Você está mentindo!
Danilo: - Não estou não, por que você não pergunta a ele o que aconteceu?
Wand: - Não vou perguntar nada, você começou agora pode contando tudo o que aconteceu!
Danilo: - Não sei se devo, você ainda vai contar tudo o que sabe para o Ricardo?
Wand: - Sim, eu já disse que sim.
Danilo: - Eu conto, mas você não pode dizer que fui eu quem te contou.
Wand: - Ok!
Me sento na rua em frente as horas
Como a qualquer hora
Assim mesmo eu sou
Sou de qualquer jeito nem tudo eu respeito
Pra onde for o vento eu vou
Pano de mesa Pano de chao
numa metrópole rasgada
sou filho do nada costurada em meio-fio
Desfilando pela calçada
Todo num vão
Cheios de vazio
Divagando na estação
Mas nem tão devagar
Saí com tanta pressa
Que larguei meu anjo da guarda por lá
Acabou a pilha da rádio fm de tanto meu ouvido tocar
perambulando na surdina eu queria te encontrar
Tô cercada de vizinho e casa um sabe um lado meu
todos tantos um só nenhum
fui me compondo todos eu
se você ainda quiser saber como eu sou
Me encontrar pode me procurar
A Câmera que filma os Dias
(Ana Carolina e Totonho Villeroy)
A luz que eu vi naquele dia escuro e ruim
Era a luz por encomenda para te filmar
Teus gestos solitários pela lente sem fim
E lento o tempo parecia desfocar
Tanta coisa escapa sem o olho ver
e as vezes as imagens vem nos assaltar
Ter te visto assim sem jeito e sem querer
Foi o tiro certo pra começar
Nosso enredo
Enquanto a vida passa no seu vai-e-vem
Não demora
A Porta jah fechou ali no armazém
O desfecho
Tenho ainda nas paredes que grafitei
Não me lembro
O dia que isso tudo comecei
A Câmera que filma os dias deu um giro e parou
Na lojinha da cidade com o preço bom
Era um dia de inverno quando você chegou
Se não fosse teu abraço compraria um moletom
Só não gosto de filme manjado
Eu vou ficando cheio vou ficando farto
Não me faz esse tipo ensaiado
Não inventa pose que eu fico invocado
A luz que eu vi naquele dia escuro e ruim
Essa imagem não se cansa de me assaltar
A Câmera que filma os dias tomou conta de mim
e passei aquele inverno inteiro a te focar
Dormi super bem aquele dia, pensando a respeito de tudo o que havia acontecido, pensei em tudo que eu estava vivendo, estava feliz pela virada que eu tinha conseguido dar na minha vida em tão pouco tempo e porque estava conseguindo me desligar de tudo o que me fizera sofrer até então. Claro que não foi fácil me desligar de tudo o que eu havia me forçado a acreditar, mas eu estava no caminho, sim eu estava no caminho.
Ele me ligou no dia seguinte super empolgado, disse que queria me ver na quarta-feira que era o dia em que eu saia mais cedo da escola, combinamos de nos encontrar perto da casa do Ricardo porque ele iria dormir lá. Ele levou um monte de besteira pra eu comer, um monte de coisa que ele roubou da loja de conveniência, um Talento, salgadinho (cheetos bola que eu adoro) e levou até um refrigerante!
Depois de todos esses mimos eu não podia deixar de aceitar o pedido de namoro dele, afinal ele iria sempre me trazer doces e salgadinhos! E afinal ele tinha tudo para ser “tudo de bom” já que fazia aniversário no mesmo dia que eu, logo segundo o zodíaco nós éramos parecidíssimos! E ali nós começamos a namorar mais pelos doces que pelo zodíaco e nos víamos sempre ou aos finais de semana ou às quartas feiras.
Enquanto isso:
O Cristian insistia em me ligar dizendo que precisava de mim em sua vida, que certas coisas simplesmente não faziam sentido sem mim. E por mais que eu insistisse com ele de que tudo estava acabado e que eu nem mais pensava nele, não bastava, ele continuava a me ligar de uma forma que chegou a me incomodar e muito.
Eu havia colocado um perfil no “amigos virtuais” do UOL quando terminei aquele namoro, e estava me correspondendo com vários garotos dentre eles um chamado Cláudio que morava no Butantã (que inclusive eu achava bem chatinho) e um outro garoto que se chamava Éden que era com quem eu mais conversava, ele cantava no coral da usp e fazia poli, estava sei lá em que ano, com ele eu trocava e-mails diários praticamente, já com o outro eu acabava respondendo por simples e mera educação.
O meu maravilhoso chefe disse que era para eu começar a viver cada dia como se fosse o último, não ele não estava dizendo para que eu aproveitasse a vida, era apenas uma forma dele dizer para eu ir me acostumando com a possibilidade de ser mandado embora a qualquer momento, logo, lá estava eu preste a ser mandado embora, o que gerou em mim sensações diversas, “o que eu vou fazer se tiver que sair daqui”, “vou ter que pedir dinheiro para meus pais toda vez que quiser fazer algo?”
Não contentes por eu ter saído da igreja, meus pais agora queriam que eu passasse mais tempo com eles, e insistiam que eu não devia ficar tanto tempo fora de casa, que eu tinha que ficar mais com a família, diziam-se preocupados com o fato de eu sair toda noite sem dizer o que fazia. Eles apenas esqueceram que eu não gostava de dar satisfações da minha vida e se antes eu dava era simplesmente porque estava respeitando o mandamento “honrarás pai e mãe”, apenas isso, logo eu não ficaria detalhando pra ninguém as minhas saídas.
No dia seguinte ele me ligou como combinado e eu fui até a casa do Ricardo, conversamos bastante e eu pude perceber que eles não eram assim tão bonitos, só o Marcelo que era loiro, tinha os olhos verdes e me pareceu ser bastante interessante na época, pois sabe-se que ele bem engordou bastante nos últimos tempos. Os dois namoravam, mas nenhum estava muito feliz com seus relacionamentos, o mais estranho é que quando eu disse que namorei por dois meses com um garoto os dois me olharam com muita inveja pois nenhum tinha conseguido tal proeza (que a meu ver não era proeza alguma).
Ficamos conversando sobre relacionamento, amizades, os lugares para dançar, profissão e como já estava bem tarde eu resolvi ir embora para a minha casa. Trocamos telefones e ficaram de me ligar para sairmos juntos um dia.
Duas semanas depois o Marcelo me liga dizendo todo empolgado que terminou o namoro que a gente precisava sair, para eu ir com eles na tunnel no final de semana,
Wand - por mim tudo bem! Como fazemos?
Marcelo - Passa na casa do Ricardo umas 5 da tarde.
Wand - Ok.
Falei para o David que iria a Tunnel no domingo e ele disse que talvez fosse também, insisti para que ele fosse já que ele não estava mais querendo sair por causa da mãe dele.
No domingo eu fui com eles, eles eram bem engraçados e eu estava gostando bastante de ter saído com eles. Chegamos lá e ficamos dançando a noite toda, eu conheci alguns amigos deles, foi nesse dia que eu conheci um cara que queria a todo custo ficar comigo, mas eu não queria, mais tarde me disseram que aquele cara é uma drag bem decadente, uma tal de Mackenzie.
No fim da noite os três estavam separados, o Marcelo tinha ficado com a nossa carona até a estação Armênia, o Ricardo havia ficado com o Danilo que acabaria se tornando um amiguinho de balada meu e eu fiquei com um cara que me abraçou e foi logo me beijando, só conversamos depois. Antes que digam que eu era bem galinha vocês precisam saber que eu só fiquei porque o cara era bem tudo de bom.
Fim de noite, nos juntamos e fomos embora. O Ricardo sentou no banco da frente, o Marcelo sentou-se do meu lado:
Marcelo - E aí? O que achou do cara que você ficou? Vai ligar pra ele?
Wand - Não, acabei de terminar o namoro com o Cristian, quero ficar sozinho.
Marcelo - Vou te contar uma coisa, mas não fique com raiva de mim.
Wand - O que?
Marcelo - A hora que a gente estava dançando na pista eu quis muito te beijar.
Wand - Ah, normal, eu também quis.
Fomos até Aruja com ele com a mão na minha perna e inevitavelmente ele me beijou quando descemos do ônibus já que a rua estava bem deserta, o Ricardo não entendeu nada e só xingou a gente de galinhas, nem ligamos. Ficamos juntos até bem tarde ali parados em frente a casa do Ricardo, a rua deserta e nós dois ali beijando, beijando, beijando. Ele perguntou se eu não queria namorar com ele, disse para ele pensar melhor e ver se é isso mesmo que ele queria, depois a gente conversava.
Quando eu conheci o David ele estava passando por crises, a mãe dele tinha grampeado o telefone de casa para descobrir se o filho era ou não gay e acabou escutando ele fazendo sexo por telefone com o namorado. Acho que nem preciso dizer que ela enlouqueceu depois disso né!? E durante alguns vários dias eu fiquei ouvindo as lamentações de David, se algum dia ele vier a ter um blog o nome deveria ser esse, a cara dele “AS Lamentações de David”.
Eu até tentei ser conselheiro e essas coisas, mas como eu sou extremamente prático, acabei dizendo pra ele desistir do garoto já que depois que a mãe do David apareceu lá na casa do garoto para contar da descoberta dela o menino pediu um tempo, um tempo!? Sai dessa David!
Foi num dia desses que o Daniel me ligou e disse que queria me encontrar para conversar a respeito dos problemas conjugais dele com a Camila, sim os dois ainda estavam juntos e já haviam terminado inúmeras vezes pelo mesmo motivo, traições da Camila que bem arrasava fazendo ele de tapetinho. Pedi para ele me deixar na estação Brigadeiro porque eu iria encontrar o David, acho que aquela foi a ultima vez em que eu o vi pessoalmente.
Fomos ao Base, eu e o David, o primo dele e outros amigos dele também. Os amigos dele eram bem mais velhos que a gente, um pessoal que já estava em outra, não tínhamos muita afinidade. Dançamos a noite toda e de lá eu vim aqui para a minha casinha.
Nós saímos uns cinco finais de semanas seguidos, foi ai que ele entrou em crise e passava vários finais de semana trancado em casa assistindo vídeos com a mãe dele. Eu também não estava muito a fim de sair porque não queria ir sozinho também, mesmo porque o Cristian ainda insistia em querer ficar comigo, ficava ligando, um inferno.
O próximo final de semana seria páscoa e meus pais viajariam na sexta-feira, o Cristian me ligou pedindo, implorando para que eu fosse com ele para o litoral, eu disse que não e pedi para que ele parasse de ficar insistindo nessa historia porque da minha parte não haveria mais volta, que ele não tinha chance, claro que ele não me escutou e passou a sexta-feira inteira me ligando, falando para eu não ser tão radical e etc, disse que não e pronto. Fim do dia, vou para casa e no caminho vejo dois garotos super "fashions", acho super estranho ainda mais por aqui, os dois eram bonitinhos, legal, mas estavam indo viajar, pensei “ao menos eu sei que deve ter mais gays aqui por perto, se não estivessem com essa mala eles bem podiam passar o feriado lá em casa”.
E no final de semana a gente (eu e o David) não saiu, fiquei aqui em casa sozinho e como a internet não estava funcionando por “n” motivos e eu já tinha acabado de ver todos os filmes que eu alugara na locadora, resolvi novamente ligar para o 145 e comecei a conversar com um cara que morava em Arujá, ele me passou o telefone dele e ficamos conversando, seu nome era Marcelo, trabalhava numa loja de conveniência 24h, inclusive foi pra lá que eu liguei, tinha um namorado que estava viajando, aproveitando o feriado, ele não pode ir porque teve que trabalhar. Conversamos bastante, ele tinha um amigo que sempre saia com ele, o Ricardo, que morava há alguns quarteirões da minha casa, comentei sobre os dois garotos que eu havia visto na sexta-feira e para minha surpresa era ele e o amigo. Acabei elogiando o garoto sem querer.
Marcamos de nos encontrar na casa do Ricardo no dia seguinte, domingo à noite, quando o Ricardo voltasse da viagem. Desliguei o telefone e fiquei feliz por ter conhecido alguém que morava tão perto da minha casa.
Estamos no fim de Março as aulas já haviam começado há uns 20 dias e o meu maior passatempo para não pensar no Cristian a partir de então foi prestar atenção às aulas, fazer perguntas, fazer anotações. Eu havia me tornado um aluno bem aplicado em primeiro lugar para não pensar no Cristian e em segundo para evitar contato com o pessoal da minha classe.
Apesar de parecer contraditório, ao mesmo tempo em que eu evitava contato com os garotos daquela sala eu também não conseguia parar de olhar para a bunda de um, ou para as pernas de outro ou o rostinho de outro. E numa Sexta-feira o garoto que todos da sala chamavam de xabi parecia ter acabado de sair do quadro “transformação”, o mesmo garoto que aparecia na escola de calça de moletom, camiseta bem largada, de repente aparece todo diferente, ele estava muito mais interessante e nada tirava da minha cabeça que aquele garoto era gay.
Na semana seguinte o garoto se aproxima de mim e diz:
David - Você estava no programa livre hoje a tarde ?
Wand - Não!
David - Ah, é que eu vi um garoto que era muito parecido com você lá.
Wand - Não, mas não era eu, eu não iria no programa livre, mesmo porque eu trabalho.
David -Sério?
Wand - Sim.
David -Estou procurando estagio mas esta bem difícil de achar alguma coisa.
Wand - Eu também estou procurando outro emprego porque o meu contrato já acabou há uns 5 meses e acho que serei mandado embora qualquer dia desses.
David -Mas pra você é mais fácil, você já trabalhou antes, tem experiência.
Wand - Não sei se é bem por ai, e estou meio desesperado porque a coisa que eu menos quero é ter que depender dos meus pais.
David -Eu estou procurando emprego exatamente por isso, quero sair sem precisar pedir dinheiro para a minha mãe.
Wand - Eu não consigo me ver mais pedindo dinheiro para minha mãe ou meu pai, ainda mais eu que adoro sair todo final de semana.
David -Que lugares você freqüenta?
Wand - Hahahahaahaah
David -Por que você esta rindo?
Wand - E você? Quais lugares você freqüenta?
David -Hahahahahahaha
Wand - E você? Por que riu?
David -Ah, sei lá.
Wand - E ai? Quais os lugares que você freqüenta?
David -Ah, eu vou num lugar que fica lá na Frei Caneca.
Wand - Aloca?
David -Fala baixo, alguém pode ouvir.
Wand - Você acha que tem alguém querendo saber sobre o que nos estamos falando ?
David -Vai saber.
Wand - Você vai de metro? O meu ônibus sai lá do outro lado, falou ai, até amanhã!
David -Até amanhã!
Foi assim que eu conheci o David, aquele que eu sempre falo mal aqui, mas mesmo falando mal dele eu o adoro. E se você estiver lendo isso aqui, saiba que eu gosto muito de você, mas nunca vou deixar de achar que já passou da hora de você cortar o cordão umbilical.
Sempre chega a hora da solidão
Sempre chega a hora de arrumar o armário
Sempre chega a hora do poeta a plêiade
Sempre chega a hora em que o camelo tem sede
O tempo passa e engraxa a gastura do sapato
E Na pressa a gente nem nota que a
Lua muda de formato Pessoas passam por mim pra pegar o metrô
E Confundo a vida ser um longa-metragem O diretor segue seu destino de cortar as cenas
E o velho vai ficando fraco esvaziando os frascos
já não vai mais ao cinema
Tudo passa e eu ainda ando pensando em você
Tudo passa e eu ainda ando pensando em você
Penso quando você partiu assim sem olhar pra trás
Como um navio que vai ao longe e já nem se lembra do cais
Os carros na minha frente vão indo e eu nunca sei pra onde
Será que é lá que você se esconde? Tudo passa e eu ainda ando pensando em você
Tudo passa e eu ainda ando pensando em você A idade aponta na falha dos cabelos
Outro mês aponta na folha do calendário
As senhoras vão trocando o vestuário
As meninas viram a página do diário
O tempo faz tudo valer a pena
E nem o erro é desperdício
Tudo cresce e o início
Deixa de ser início
E vai chegando ao meio
Aí começo a pensar que nada tem fim
Que nada tem fim
Implicante
(Ana Carolina)
Hoje eu levantei com sono com vontade de brigar
Eu tô maneiro pra bater pra revidar provocação Olhei no espelho meu cabelo e tudo fora do lugar
Vê se não enche não me enconsta
Tô bravo que nem leão
E não pise no meu calo que eu te entorno feito água
Eu te jogo pelo ralo
Hoje você deu azar
De que vale seu cabelo liso e as idéias enroladas
dentro da sua cabeça
Hoje eu vou mudar o teu destino
te passar num pente fino
Então desfaça sua trança
Eu que sou tão inconstante
e você tão permanente
Com a gente tudo enrolado
não adianta creme rinse
Corta as pontas da sua mágoa
Que hoje eu tô meio implicante
Hoje você deu azar
De que vale seu cabelo liso e as idéia enroladas
dentro da sua cabeça
Tô Caindo Fora
(Ana Carolina-Marilda Ladeira-Fernando Barreto)
Eu não quero saber de você
Eu não escrevo mais cartas de amor
As lágrimas são adereços
Adornos de usar
Porque me mostra o mar se eu quero ver o navio
O amor sente frio
Feche seu casaco
Eu bem que te avisei pra não confiar em mim
Suas mãos estão repletas mas precisam de flores
Assim como Rodin precisou de muitos amores
A lágrima não é só de quem chora
A lágrima não é só de quem chora
Tô indo embora
Tô caindo fora
Eu nunca te amei Idiota
(Alvin L)
As coisas mudam
E eu espero que nada aconteça
Mas sempre acontece
Toda vez que eu perco a cabeça
Eu digo frases que parecem
Ter saído de uma novela
E de repente lá se vai a tv
pela janela
Eu nunca te amei idiota
Eu nunca te amei
Cinzeiros voando livros rasgados
Discos quebrados no chão
Desta vez e pra sempre
Até.. alguém implorar por perdão
Eu escondi seu retrato
Embaixo do meu travesseiro
Vá embora, quebre a cara
Eu queimei seu dinehiro
Eu nunca te amei idiota
Eu nunca te amei
A Canção Tocou na Hora Errada
(Ana Carolina)
A canção Tocou na hora errada
E eu que pensei que sabia tudo
Mas se é você eu não sei nada Quando ouvi
A canção era madrugada
Eu vi você até senti tua mão
E achei até
Que me caía bem como a luva
Mas veio a chuva
Ficou tudo tão desigual A canção tocou no rádio agora
Mas você não pôde ouvir por causa do temporal Mas guardei tuas cartas com letras de fôrma
Mas já não sei de que forma mesmo você foi embora
A canção Tocou na hora errada mas
Não tem nada não
Eu até lembrei das rosas que dão no inverno Não tem nada não
Eu até lembrei das rosas que dão no inverno
Violão e Voz (Ana Carolina)
Eu faço samba e amor a qualquer hora
De madrugada tem batucada
E eu to afim de você
Ficar parado eu não aguento
Não quero viver a exemplo da vida dos santos Eu não moro em são Francisco
Eu não moro em são Francisco
E você faça de mim um instrumento de sua paz
E sabe do que mais
Eu sou como o tambor que ressoa mais dentro dele
que da pessoa
Eu faço samba e amor a qualquer hora
Porque não agora
Eu não posso perder você
Como quem perde um real e não nota não vê
Sem querer pisei num despacho
E saí cantando
Geraldo Pereira
Sem querer pisei num jardim
e saí cantando
Noel Rosa
Eu tenho você no coração
Ficar sozinho é pra quem tem coragem
Eu vou ler meu livro Cem anos de Solidão E nada melhor que ficar a sós com a voz e o violão
E nada melhor que ficar a sós com o violão e voz
Cinema, Minority Report sem grandes reflexões, só o Tom Cruise já valeu a pena. Eu, Cláudio, Maurice, Gabi e como era mesmo o nome dele? O fim? Como eu vou saber se o garoto não consegue completar uma frase até o fim. Preconceito? Acho que não, pode ser, sei lá! Ok, eu admito, não tenho motivos para achá-lo o fim, mas acho.
Eu já tinha o visto antes de subir as escadas, estava na fila do caixa eletrônico e me escondi na frente do rapaz que estava na minha frente. Definição para ele: A personificação do que é ser "loser". E eu me escondi dele para ter que encontrá-lo alguns minutos depois conversando com o Cláudio, não, o que eu fiz para merecer isso? E só porque eu estava fugindo tenho que ir com ele no metrô, assunto não teríamos, possível assunto: O Leonardo (que definitivamente eu não gosto). Agora alguém poderia me explicar porque eu tenho que ser obrigado a acompanhar um garoto esquisito que o maior vínculo que tem comigo é ser amigo de um amigo do Cláudio que eu odeio? Solução: Silêncio absoluto! E o mesmo silêncio que me incomoda quando eu estou com o Eiki me fez gozar de prazer na presença daquele menino, porque se o silêncio com o Eiki me incomoda é porque nós poderíamos estar falando de algo agradável o silêncio com o "qual é mesmo o nome dele?" fez eu me sentir muito bem!
Não, a noite não acabou. Ônibus lotado, uma garota ao meu lado começa a falar com a amiga dela, sim elas eram bem chatas e tinham a voz bem aguda. Durmo, durmo, durmo. Até que: sinto uma cabeça no meu pé! Não, não foi um assassinato, um garoto resolveu passar por baixo do bando para não dizer que passou por baixo da catraca. A garota levantou-se para ele passar, ele sentou-se no lugar da garota, não, por favor, tragam aquela garota chata de volta! Mau cheiro, dedo no nariz, cabelo há meses sem lavar, começa a me medir de cima a baixo. Pânico, medo, de repente ele começa a cumprimentar todos no ônibus, chama o rapaz do banco de trás de barrigudo, os dois, fica apertando a barriga deles, como o meu ponto já estava chegando resolvi levantar-me antes que ele começasse a dizer que eu sou barrigudo também.
Duas semanas se passaram e nada de telefonema e no momento que eu decidi desistir dele, o telefone tocou, era ele:
Wand - Alo!
Cristian - Fala Cris.
Wand - Tudo bem?
Cristian - Sim! E com você?
Wand - Tudo bem!
Cristian - Vamos sair hoje?
Wand - Sim, claro!
Cristian - Você pode me encontrar em frente ao Allegro às 23h30?
Wand - Sim, claro!
Cristian - Ok então!
Wand - Beijo na sua boca.
Cristian - Outro.
Minha irmã olhou pra mim e perguntou se eu não queria ir com ela na igreja porque era dia de santa ceia, eu prontamente respondi que sim, que iria com ela. Eu fui e mais uma vez aquilo tudo só serviu para me mostrar que eu definitivamente não fazia mais parte daquilo, depois que acabou o culto eu ainda fiquei lá conversando com o pessoal e quando eu cheguei em casa já eram 24h. O telefone tocou, era o Cristian:
Aproveitei para tirar o telefone do gancho e desligar o meu celular, fui dormir e no dia seguinte a caixa postal do meu celular estava lotada, apaguei recado por recado, uma sucessão de “obrigado por me deixar aqui esperando”, “se você não queria me ver tivesse dito logo”, “por favor atende esse celular, eu preciso muito falar com você”, “não faz assim comigo, eu posso me explicar”.
10:00 am do domingo
O telefone não para de tocar, minha irmã sempre dizendo “ele não esta”, “ele deixou o cel”, “não sei onde ele esta”, “acho que ele foi jogar voley com o pessoal da igreja”, “quer que ele te ligue?”.
Na Segunda-feira meu celular permaneceu desligado o dia inteiro e ele não satisfeito começou a ligar no telefone do meu serviço, sempre que eu podia eu o ignorava, mas uma vez quem atendeu foi o Silas que disse “o Rodrigo”, eu atendi e era o Cristian, pedi para que ele me encontrasse na frente da federal para que pudéssemos conversar. Ele me aparece com o cabelo preto, magro, uma cara horrível. Depois desse dia eu não conseguia mais olhar para ele como se ele fosse um homem, ele não passava de sei lá o que, não conseguia nem olhar para a cara dele direito.
Fomos ao MC do shopping D e ele é tão orgulhoso que queria pagar para mim sem ter um centavo na carteira, falei um monte pra ele, disse que se ele tinha os problemas dele que tivesse me explicado e que ele não devia ter me feito esperar durante duas semanas um telefonema, disse que se ele não tinha comida em casa não me mandasse embora e tivesse falado, disse que se ele não sabe lidar com os sentimentos dele eu não poderia fazer nada para ajuda-lo, mandei ele embora da minha vida sem chances de voltar a participar dela.
Se tem uma coisa,
Que me deixa passada...
É gritar comigo,
Sem eu ter feito nada...
Se tem uma coisa,
Que eu não admito...
É gritar comigo,
Você gosta de mandar,
Você só me faz sofrer
Você só sabe gritar,
E grita sem saber...
Mas sem mim você não vive...
Sem meus cuidados amor...
Fala baixinho comigo,
A sua dona chegou
Vem aqui!
Que agora eu tô mandando,
Vem meu cachorrinho,
Sua dona tá chamando...
Vem aqui!
Que agora eu tô mandando,
Vem meu cachorrinho,
Sua dona tá chamando...
Você não acreditou
Você nem me olhou
Disse que eu era muito nova pra você
Mas, agora que cresci, você quer me namorar
Você não acreditou
Você se quer notou
Disse que eu era muito nova pra você
Mas, agora que cresci você quer me namorar
Não vou acreditar nesse falso amor
Que só quer me iludir, me enganar, isso é caô
E pra não dizer que eu sou ruim
Vou deixar você me olhar
Só olhar, Só olhar
Baby, Baba
Olha o que perdeu
Baba, criança cresceu
Bem feito pra você, ehh, agora eu sou mais eu
Isso é pra você aprender a nunca mais me esnobar
Baba, baby, baby, baba...
Porque certas coisas não são assim tão inconcebíveis
Não há o que concordar, mas a meu ver ambas tiveram o mesmo desejo, ambas quiseram conhecer, experimentar. Sim, eu concordo que é possível provar e não gostar de algo que até então parecia inusitado, mas também não posso ignorar a possibilidade de se gostar também.
Não dá para dizer que é impossível não gostar do novo só porque o novo nunca fez parte da sua vivência anteriormente e se existe uma pré-disposição para conhecer o novo, uma curiosidade que seja, uma curiosidade que pode passar em alguns poucos minutos, mas em algum momento houve essa curiosidade e sim, sempre haverá possibilidade do novo agradar desde que se esteja aberto a novos caminhos, novas possibilidades.
Suas certezas podem simplesmente não ter o menor fundamento e a cada dia eu acredito menos em rótulos sexuais (gay, lésbicas, hétero, bi, etc). Porque o prazer não pode ser encarado desta forma, isso é preconceito, eu acredito em atração sexual, mas vou sempre achar isso muito relativo, porque o prazer será sempre o mesmo independente de quem o forneça ou do sexo de quem o fornece, sim em alguns momento pode até ser que falte alguma coisa, mas ninguém consegue satisfazer todas as necessidades de outra pessoa, isso é impossível.
Tabus foram feitos para ser quebrados, eu já sei que isso é clichê, mas o fato de algo ser clichê não tira de si a verdade, esse é mais um preconceito, por que não experimentar? Por que não fazer algo que nunca sentiu vontade? No fim o que parecia ser repugnante pode tornar-se agradável, sim e relacionamento é muito mais que sexo.
Há anos você procura pela pessoa certa e nenhuma está a sua altura, nunca ninguém está a sua altura, então você percebe que a pessoa que você procura não existe, que ninguém nunca conseguirá agregar todos os adjetivos que você precisa na pessoa que quer para estar consigo, é ai, exatamente nesse momento que você encontra alguém que poderia mudar todos os seus conceitos, alguém que consegue te fazer feliz, alguém com quem você quer fazer planos, alguém com quem você conversa sobre tudo, existe um pequeno empecilho, vocês tem problemas na cama. Continuo achando que isso não é problema, o fato de não estar acostumada a fazer determinadas coisas não determina se há ou não amor.
São as coisas que você não diz
Que me matam de medo
Vagando entre a terra e o céu
Disfarçadas de segredo
Seu rosto não tem marcas
Sua história não tem meio nem fim
As fotos que eu tirei de você Só revelaram a mim
Eu devo gostar de perder
Meu tempo com você
Ouça meu silêncio gritando "Agora é tarde demais"
Eu sonho toda noite com a falta
Que você não faz
Não use roupas quentes
Não me apresente seus pais
Eu devia ter ficado em casa
E me deixado em paz Eu devo gostar de perder
Meu tempo com você
Beatriz
Olha
Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura O rosto da atriz
Se ela mora no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida Olha
Será que ela é louça
Será que é de éter
Será que é loucura
Será que é cenário A casa da atriz
Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de hotel
E se eu pudesse entrar na sua vida
Sim, me leva pra sempre, Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Aí, diz quantos dessas tres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz
Olha
Será que ela é uma estrela
Será que é mentira
Será que é comédia
Será que é divina
A vida da atriz
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se um arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida
Agora ou Nunca
Não existe a lei da gravidade
Nunca é a hora da verdade
Nunca se responde uma pergunta
Nunca é o dia de São Nunca
Nunca é Agora ou nunca é
Nunca
Quem é livre não quer liberdade Não existe a lei da gravidade
Pode viajar de avião
Pode colocar os pés no chão
Nunca é...
Não existirá eternidade Não existe a lei da gravidade
Nunca existiu o paraíso
Nunca é o dia do juízo
Nunca é...
Armazém
(Ana Carolina)
Se precisar de alguma coisa
Vai lá no meu armazém
Tem de tudo quase tudo tem No meu armazém
Tem de tudo quase tudo
Tem rodo, tem barbante tem farinha, pedra-pomes
Prendedô, passadô
Escorredô, esmalte vermelho
E tem até couro pra pandeiro
Mas tudo é embrulhado
Num papel fuleiro Se precisar de alguma coisa
Vai lá no meu armazém
Tem de tudo quase tudo tem
Mas se você não vem
A saudade é longa dobro minha manga
A saudade é tanta te vendo uma Fanta
A saudade é dura vendo também miniatura
A saudade não passa
Só não vendo de graça
A saudade me cala não tem trocado leva bala
A saudade é um bocado paro de vender fiado
A saudade é um bocado paro de vender fiado
Se precisar de alguma coisa
Vai lá no meu armazém
Tem de tudo quase tudo tem Por entre o realejo lá no fim do dia...
Começamos a namorar, tomei coragem e perguntei de quem eram aquelas imagens todas, ele disse que eram da irmã dele, eu disse que tinha medo, contei da igreja, que era crente e coisa e tal. Ele achou engraçado, começou a dizer que eu era a bichinha crente, achei engraçado e com essas foram surgindo várias outras brincadeirinhas, coisas de casal.
A cada dia eu estava mais envolvido e percebi que ele também estava se envolvendo bastante só que não queria admitir isso e talvez por pura imaturidade ou sei lá o que ele começou a me tratar mal, inventar mentiras, me criticar gratuitamente, não, não dá pra entender.
Mas eu entendi, sim ele estava desempregado há alguns meses, a irmã dele era quem pagava o aluguel, quase não tinha dinheiro para comer, já havia pensado em fazer programa. Ele tinha os surtos psicóticos dele e eu ficava lá com ele, conversando, pra mim bastava estar ali ao lado dele, nem ligava se ele gritava, não falava coisa com coisa, mentia, fazia joguinhos.
Dois meses se passaram e num belo dia eu sai da minha casa e fui até a casa dele, peguei um ônibus perto da minha casa e fui para a estação Armênia, entrei no metro e desci na estação Saúde, lá peguei uma lotação para chegar em Diadema. Eu chego na casa dele, beijos, abraços, carinhos até que:
Cristian: - Você precisa ir embora!
Wand:-Como assim? Por que?
Cristian: -Eu preciso ficar sozinho!
Wand:-Mas eu vim aqui para a gente ficar juntos.
Cristian: -Só que eu não quero ficar junto de ninguém, eu quero ficar sozinho.
Wand:-Você tem certeza de que é isso que você quer?
Cristian: -Sim!
Wand:-Se você se arrepender nem vai adiantar porque eu já vou estar lá em Arujá e não vou querer voltar.
Cristian: -Não me leve a mal, mas eu preciso ficar sozinho.
Wand:-Ok.
Eu não sabia ao certo como lidar com ele, porque ele era bem mimado e eu sou totalmente avesso a pessoas mimadas, não mimo ninguém, se ele queria ficar sozinho eu é que não ia ficar implorando pra ficar com ele. No dia seguinte eu fui viajar com os garotos da igreja, ele me ligou e ficou puto porque eu não estava nem ai para o que ele estava passando.
Wand:-Quer saber, você tem os seus problemas e não quer dividi-los comigo, o que eu posso fazer?
Cristian:-Você precisa me entender!
Wand:-Eu entendo, mas não pense que porque você não quer ver ninguém eu vou ficar em casa chorando.
No final de semana seguinte estava tudo bem novamente, mas ele não morava mais naquela casa, agora morava com uma garota que ele conheceu na rua. Não entendi nada, só sei que a partir daí eu não poderia mais dormir lá na casa dele. Trouxe ele aqui pra minha casa, dormimos aqui, meu pai o achou bem estranho, minha mãe disse que ele parecia ser bem carente, sei! Foi embora e ficou de me ligar já que ele não tinha telefone.
Todos os meus amigos da igreja começaram a me ligar para saber porque não apareci, porque não fui à igreja, porque não havia ligado, o que havia feito no final de semana. Quando eles ligaram eu não estava em casa e depois eu não respondi as ligações.
O Silas o tal crente ficava me perguntando como havia sido o culto no domingo e eu sempre desconversando “foi uma benção”, agora imaginem eu falando isso “foi uma benção”, o meu maior pecado na igreja sempre foi ficar repetindo invariavelmente os jargões que o pessoal mais conservador adorava utilizar, algo como olhar para sua cara e dizer: “foi uma benção”, ou “está amarrado” ou então “ O sangue de Jesus tem poder” e coisas do tipo. A partir dali foi isso que eu comecei a fazer com o Silas.
E no final de semana seguinte eu voltei à Diesel e não podia nem ir com os meus amiguinhos da Ford porque tinha o mala do Marcos que não sei por qual razão achava que eu era o namorado dele. Cheguei lá e vi todos os garotos que eu já havia ficado, o Junior, o Marcos e fugi dos dois. Fui para a pista e fiquei dançando novamente sozinho.
De repente eu vejo um garoto loirinho, olhos azuis, aparentemente forte, ele começou a dançar perto de mim, me encarando, eu correspondendo, claro que analisando friamente hoje posso perceber que a cena foi patética. Mas continuando, estávamos lá dançando um encarando o outro e do nada ele me beija, sim ele me beijou, senti-me aliviado, agora o Marcos não iria tentar mais nada comigo, ele havia visto.
Quando nos beijamos era o começo da noite e passamos a noite toda de mãos dadas, beijando, dançando, conversando. Ele disse que havia acabado de voltar de Santa Catarina, seu nome era Christian e estava morando temporariamente na casa da irmã. Disse também que trabalhava na MTV e que teria que voltar pra lá na semana seguinte, senti um balde de água fria caindo na minha cabeça e resolvi aproveitar o momento.
A noite estava acabando, pensei que nunca mais fosse vê-lo, foi quando ele me convidou para ir até a casa dele e eu fui. Voltei para a minha casa no domingo à noite. Sim, eu sei, ele podia ser um maníaco mas eu nem liguei. A casa dele era bem sinistra, era algo completamente inconcebível para o meu modo de agir enquanto ainda andava com o Daniel, ele morava em Diadema num bairro chamado Caema, medo, muito medo ! A casa dele era num cortiço, um quarto e sala no final de um corredor de onde dava pra ver tudo o que as outras pessoas faziam nas outras casas e por mais incrível que possa parecer eu nem ligava e pra falar a verdade estava ate gostando daquele clima de cortiço mesmo.
Na casa dele novas surpresas, varias imagens de candomblé com algumas oferendas. Eu havia acabado de parar de freqüentar uma igreja evangélica que para quem não sabe é totalmente contra as religiões afro-brasileiras, eu fiquei com medo, mas não estava nem ai eu só queria ficar lá com ele. E foi bem bom, eu passei o final de semana feliz da vida, depois no domingo a tardinha ele foi comigo até a Av. Paulista e nós ficamos andando pelas ruas do Jardins, ele me contava o que já tinha vivido que havia namorado um cônsul canadense que mais tarde eu conheci, me mostrou onde morou antes de ir para Santa Catarina e depois ele me levou até o metro, pediu para namorar comigo e eu aceitei sem nem pensar.
Passei a semana toda aguardando ansiosamente pelo final de semana e quando ele finalmente chegou eu ainda estava indeciso se saia ou não, se ia ou não ia para a Rua da Consolação e na indecisão eu acabei indo.
Desci na estação do metro e fui até a Rua da Consolação, estava sozinho, totalmente perdido. Vi um numero bem grande de pessoas em frente ao Allegro, entrei e fui até o banheiro e logo na porta eu vejo o Eloi, o Eloi era um amigo da Tatiana que eu conheci na igreja dela, fiquei branco na hora, não sei nem como consegui soltar um “oi” e corri para dentro do banheiro sem dizer uma só palavra a mais. Quando eu sai, ele havia mudado de lugar estrategicamente para que fosse impossível eu não falar com ele, falei oi novamente, mas não tocamos no assunto esse lugar é gay, estava sozinho e preferi continuar assim.
Ao contrario do que todos estão pensando eu não fui ao Massivo apesar de ter ficado parado na porta pensando se deveria ou não entrar. Eu sempre ouvi falar sobre, mas nunca havia ido. Resolvi não entrar porque imaginei que iria acabar encontrando o Eloi lá dentro, já que eu imaginava que aquele era o lugar mais badalado.
Fui para a Diesel que atualmente não existe mais, dancei a noite toda, sim eu dancei sozinho e daí, foi a primeira vez que vi o Jorginho, a primeira vez que eu vi um show de drag que confesso não ter gostado, achei uma versão bem mal feita das transformistas do Silvio Santos, mas calma, no fim das contas eu acabei gostando depois de alguns finais de semana.
Tudo era bem novo pra mim, eu ficava lá olhando aquelas pessoas todas, um ou outro se destacava de todos, uns mais bonitos e outros bem losers. O fato de estar ali era como uma libertação de tudo o que eu havia acreditado nos últimos tempos, mas não foi assim tão fácil porque volta e meia as coisas voltavam na minha cabeça, eu imaginava estar cometendo um pecado muito grande estando ali.
De qualquer forma a noite foi passando, passando, passando, até que chegou a hora de ir embora, conheci um garoto, seu nome era Junior, ficamos. E eu fiquei por ficar, nunca liguei para ele e ele tão menos pra mim. Fui pra casa e no dia seguinte eu voltei lá na Diesel.
Vi o garoto do dia anterior e resolvi fugir dele, fui para a pista e encontrei um monte de gente que trabalhava comigo, primeiro pensamento: ir embora, segundo pensamento ( o que prevaleceu): foda-se! Depois de algum tempo dançando na pista eles se aproximaram de mim e começamos a conversar, bem eu já tinha amigos agora (pensei eu). Fiquei a noite toda conversando com eles, dizendo quem era e quem não era gay lá na Ford e de repente o Marcos me beijou, não isso não estava nos meus planos e depois desse dia eu fugi dele como o diabo foge da cruz. Fui pra casa e no dia seguinte eu sai novamente, dessa vez eu fui na Tunnel depois que meus novos amigos me disseram quais os lugares bons (?) e seus respectivos dias. Não aconteceu nada de relevante aquele dia, e fui pra casa com a sensação de que aquele havia sido o final de semana mais diferente da minha vida.
Eu estava disposto a provar para o meu pai que seria bem melhor se eu continuasse a freqüentar a igreja, eu iria dar uma lição a ele, mas ele veio me pedir desculpas, disse que nunca mais iria se meter na minha vida, que eu fizesse o que eu quisesse e que fosse feliz. Fiquei um pouco frustrado com esse pedido de desculpas, agora tudo o que eu viesse a fazer para provoca-lo não faria mais o menor sentido já que ele havia pedido desculpas para mim.
Eu não estava mais tão neurótico tentando evitar os meus pensamentos e então as coisas acabaram acontecendo, um certo dia eu entrei numa sala de bate-papo e um novo mundo se descortinara bem ali na minha frente. Comecei a teclar com um garoto que eu imaginei de um jeito e ele era de outro bem diferente, resumindo ele era um garoto da minha altura mas com 20 quilos a mais que evidentemente não eram músculos, os olhos deles era bem curiosos, um apontava para o céu e o outro tentava olhar o nariz dele, sim, ele era BEM bizarro, assim que nos encontramos ele já perguntou se eu havia gostado dele, eu prontamente respondi “podemos ser amigos”, depois desse dia eu nunca mais o vi.
Na mesma época eu descobri o 145 que era bem divertido, e foi lá que eu conheci outro Marcelo, que era modelo e ao mesmo tempo salva vidas, parecia que eu havia tirado a sorte grande. Conversamos durante quase um mês e resolvemos nos encontrar, marcamos de nos encontrar na Av. Paulista num sábado a noite e essa seria a minha primeira balada gay.
Nos encontramos no local marcado, e antes de irmos para o tal lugar passamos pela rua da Consolação, não preciso dizer o quão feliz eu fiquei, vi um casal de garotos andando de mãos dadas como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo (mas o que há de anormal nisso?) e senti vontade de ter tudo aquilo, andar de mãos dadas com algum garoto, ter uma relação em que carinho houvesse carinho. Até então as minhas experiências com homens não envolviam carinho, era carne, nada alem de carne.
Fomos para o Z club e para quem quer saber: não eu não fiquei com o garoto, primeiro porque ele não era tudo o que eu imaginei e segundo porque ele não demonstrou interesse. Apesar de ninguém ali estar dentro dos padrões atuais de beleza eu gostei do lugar e da liberdade que as pessoas pareciam ter ali.
Depois do tal encontro eu fui para a minha casa e não mais falei com o rapaz. Passei a semana toda imaginando como seriam os outros lugares, entrei na internet, procurei uma lista de lugares GLS, descobri que eu havia ido num lugar de Sapas e quis conhecer outros lugares onde o numero de garotos superasse o de garotas.
Eu já estava em novembro de 1998, já estava a mais de um ano naquela vida louca e ainda estava louco. Mas já não tinha forças para tentar lutar contra a minha natureza e foi ai que começaram as recaídas, uma sucessão de faz e se arrepende depois. Faz e se arrepende depois, faz e se arrepende depois.
Uma das coisas que o meu fanatismo me impulsionou a fazer foi deixar de escutar músicas que não fossem evangélicas, e sim eu me tornei um retardado. Foi num dia desses que eu comprei um cd do Cazuza que pode ser considerado o primeiro cd dos que eu tenho hoje, e eu escutava todos os meus cds sempre tentando ver deus nas letras e fiz isso tanto no cd do Cazuza quanto no do Legião, sim eu sou louco, totalmente louco.
Dezembro chegou e fomos viajar para o Paraná novamente (depois que eu entrei na igreja eu sempre viajava com os meus pais quando eles resolviam ir para algum lugar), toda a família, a Michele (a minha prima que foi embora para não mais voltar) também estava lá e nós passávamos horas e horas conversando, eu já tinha desistido de não falar mal de ninguém e falei muito mal das pessoas hipócritas que tem na nossa família. Acho que esse é o assunto que eu e ela mais gostamos de falar.
Só pra constar: novamente eu fui reprovado nesse ano, logo iria cursar o terceiro ano novamente.
Num belo dia eu comecei a falar como um louco (mas aparentava estar muito calmo), falava como louco porque as coisas que eu falava não apresentavam nenhum sentido real, eu criticava a minha irmã por isso, minha mãe por aquilo, meus pais por aquilo outro e isso na frente de todos. Foi nesse momento que meu pai surtou e começou a me xingar, não sabia mais o que estava falando, dizia para que eu parasse de ir à igreja e que pelo jeito que as coisas andavam ele iria acabar saindo de casa. Começou a chorar, saiu, deixou todo mundo de boca aberta.
Como eu não perdi o controle ninguém ficou contra mim, mas todos ficaram preocupados com ele. Hoje eu sei muito bem que o louco ali não era ele e sim eu. Depois de ver todo o ódio que o meu pai sentia pela igreja que eu estava freqüentando eu decidi não mais ir, e não mais lutar contra os meus desejos. Eu pensei “agora ele vai ter o filho que ele sempre quis ter”, claro que foi num momento de raiva que eu tomei essa decisão, mas ela muito me influenciou alguns dias depois.
Alguns meses depois foi o meu batizado, sim eu me batizei na tal da igreja, todos os meus amigos presentes, a Tatiana veio de São Paulo para assistir, minha mãe apesar de ser contra estava presente, meu pai não foi, não queria me ver passar por aquilo e brigamos por isso, ele queria entender a causa de eu estar me trancando naquela igreja a maior parte dos meus dias.
Na cabeça dele somente quem matou alguém ou cometeu outro pecado muito grande se enfiaria numa igreja, às vezes eu acho que ele bem sabe o porque de eu ter me trancado naquela igreja, eu me enfiei lá porque estava sozinho e depois porque eu queria sim deixar de ser gay, o que é totalmente impossível.
Para me enganar e não pensar a respeito do que eu estava fazendo, eu me calcei de diversos artifícios. Freqüentava a igreja duas vezes por semana, andava o tempo todo com amigos evangélicos, tinha o Silas que trabalhava comigo que conseguia ser mil vezes mais fanático que eu. Foi ai que eu comecei a ter medo de ficar sozinho, com medo que alguma potestade do mal me agredisse, e quando sozinho eu dormia, dormia e dormia, chegava ao absurdo de passar tardes inteiras dormindo quando meus pais viajavam. Além de dormir eu tomava banho, várias horas de banho para ver se a hora passava logo para eu poder ir para a igreja.
Alguns meses depois eu fugia, fugia, fugia do fato de gostar de garotos e eu conseguia sim evitar tais pensamentos “pecaminosos”. Só que é impossível controlar os nossos sonhos e eu tinha sim, sonhos eróticos e bem eróticos mesmo e eu sempre me via tentando fugir de alguém que estava se insinuando para mim, até o dia em que eu tive uma polução noturna, acordei todo desnorteado, feliz por ter sido apenas um sonho, mas super culpado por ter tido a tal da polução e eu me culpei, me culpei muito, não sabia mais o que fazer, por que aquilo estava acontecendo comigo.
Foi aí que eu tive a brilhante idéia de falar com um casal de amigos meus que faziam parte da igreja, eu contei tudo, me despedacei em lágrimas falando que aquilo era mais forte que eu e que eu não conseguia mais sozinho, não agüentava mais aquilo tudo, precisava de ajuda. Eles logo me disseram que eu podia contar com eles, mesmo porque eles eram os responsáveis pelo aconselhamento aos jovens.
A ajuda deles se resumiu a um vamos ao medico para fazer um exame do HIV e oraremos por você. A ajuda acabou ai, nada mais que isso, como? E a ajuda deles acabou ai porque não tinha mais o que ser feito, não havia o que dizer, fazer ou mudar. Ninguém deixa de ser gay oras, mas eu insisti por mais algum tempo, sem obter nenhum resultado, mas continuei.
Não havia dúvida alguma, eu estava enlouquecendo, como um ser normal pode em sã consciência abrir mão da sua vida em prol de algo que não existe e se existir deve ser muito chato, o que sei é que passava 24h por dia evitando pensar em homens, seus peitos, suas coxas, suas bundas, seus paus, etc. E já haviam se passado 8 meses sem que eu tivesse ao menos dado uma gozada, não eu não me masturbava também.
Agora pensem bem OITO MESES indo totalmente contra a natureza humana, não há como não enlouquecer, não há! E eu estava louco, não conseguia mais resistir às tentações, foi ai que num dia de chuva em que eu cheguei muito cedo na federal eu conheci um garoto, eu entrei no banheiro do shopping d e ele estava lá se insinuando pra mim, ele se insinuou e eu fiquei lá só olhando, ele me chamou e eu sai do banheiro.
Ele saiu atrás, queria falar comigo, pediu, falou e me convenceu, mas não havia onde. Nada que uma escada de incêndio não resolva, gozamos, sim gozamos e depois ficamos conversando, conversando, conversando, ele era bem mais problemático que eu, simplesmente não falou dos 6 aos 15 anos, nem uma palavra. Falamos sobre homossexualidade, sobre se aceitar ou não, ser assumido ou não. Ele era bem mano, ficava com várias garotas (segundo ele, mas acredito ser verdade porque ele podia) e queria por toda lei que eu fosse com ele para alguma balada, programa de casais, não eu e ele, mas sim eu e uma garota, ele e outra, pensei “to fora” e disse “claro que sim”, peguei o telefone dele e nunca mais liguei, sumi do mapa e nunca mais vi aquele garoto.
Depois desse acontecimento eu poderia bem ter desistido de continuar a freqüentar a tal da igreja, mas não desisti, muito pelo contrario a partir daí eu me envolvi ainda mais porque estava arrependido, e me martirizava toda noite com longas horas de orações, sim eu estava louco, totalmente louco e neurótico.
Quando eu percebi quatro meses se passaram e eu ainda estava lá freqüentando a igreja e me sentindo um deles.
Enquanto isso:
O fim do ano se aproximava e eu fui aprovado sem ao menos ficar de recuperação.
No auge da minha loucura eu gastei todo o meu 13° salário, a minha primeira participação nos lucros da empresa e as parte das minhas férias comprando presentes para os meus familiares no Shopping Iguatemi, sim eu comprei presente para os parentes que hoje em dia eu odeio, não suporto e eu só podia estar possuído por algum espírito muito bom (?) para ser tão generoso com quem nunca foi nada generoso comigo.
O pior foi eu ter dado atenção especial às crianças, será possível uma coisa dessas ????
A Paty apareceu em casa em pleno natal e eu me senti constrangido com a presença dela, imagino não ter sido o único a ficar constrangido, mas deixei as coisas fluírem. Foi assim que voltamos a nos falar, ela me fez milhões de perguntas, por que eu não havia dito isso, ou aquilo. Disse também que não falava mais com a Camila que os amigos dela tinham se afastado.
Evitei de todas as formas ficar a sós com ela porque percebi que ela ainda gostava de mim e que sim, depois de tudo ainda queria ficar comigo! Mas foi bom encontra-la, alguns quilos mais gorda, mas foi legal revê-la, fizemos as pazes e foi a partir daí que voltamos a nos falar, claro que não com a mesma freqüência de antes, mas a partir daí eu não mais a evitava.
Depois disso eu ainda liguei para o Daniel também, conversamos como se aquela cena grotesca nunca tivesse acontecido, falamos de diversas coisas e pelo que pude perceber eles continuavam as mesmas pessoas vazias de sempre (não que eu também não seja vazio) e não liguei mais e nem ele, não voltamos a ser amigos, mas agora eu já me considerava alguém sem dívidas para com os outros.
Eu parei de ir à igreja da Tatiana e comecei a ir em uma perto da minha casa e durante algum tempo eu freqüentava a igreja sem conversar com ninguém, eu me sentava e assistia o culto, depois eu ia embora sem falar com ninguém.
Depois de alguns cultos, sempre que eu via aquele garoto, ele sorria para mim, o que era super normal já que eu já havia aprendido a sorrir daquela forma gratuitamente, depois de alguns cultos começamos a conversar e ficamos muito amigos. Com ele veio o resto dos jovens da igreja. E a partir daí a minha vida foi totalmente preenchida por cultos, reuniões de jovens e pizza com os “irmãos” entre outras atividades sempre acompanhadas da fé.
Com o tempo formou-se o nosso grupinho, eu, o Rodrigo (o do sorriso), o Evandro e o Josias. Tudo estaria bem se os meus novos amiguinhos não fossem os garotos mais bonitos da igreja e se o nosso único programa não fosse sair pra comer em algum lugar, alugar um vídeo e depois todos para a minha casa assistir e acabar dormindo por lá mesmo.
Com o tempo depois da influência deles eu acabei deixando de ser tão fanático e chegávamos ao ponto de ficar rindo durante o culto quando percebíamos alguém mais empolgado, imitávamos a oração empolgada de uns, criticávamos o terno do pastor. E sempre tinha algum que não estava lá muito empolgado com as coisas da igreja.
O Josias que era filho de pastor era o pior de todos, era amigo do pessoal mais hard rock de Arujá (nossa que coisa mais bairrista) e vez ou outra quando notávamos a falta dele no culto sempre encontrávamos com ele totalmente bêbado em algum lugar da cidade.
O Evandro era quem levava mais a sério o lance de ser crente e ler a bíblia e seguir seus ensinamentos, acho que exatamente por isso era meio difícil ser amigo dele.
O Rodrigo era uma versão mais comedida do Josias, ele não bebia, mas também cometia os seus deslizes.
Eu, ao contrário do que todos devem estar pensando, era o mais religioso de todos, o mais inconformado com a minha falta de santidade e queria mudar isso dentro de mim, sim eu me enganei por muito tempo.
Foi uma época em que eu não me reconhecia, eu não era mais o mesmo anti-social, conversava com todo e qualquer ser que aparecesse na minha frente desde que esse quisesse conversar, fui tomado por uma bondade que chegava a ser irritante, havia me tornado o mais fiel militante da causa evangélica que eu conhecia.
Depois de algum tempo eu já comecei a julgar os outros e achei que a igreja da Tati além de ser muito longe da minha casa também era composta por pessoas muito impuras para que eu continuasse a freqüenta-la (alguém me diga, por favor, se existe limite para a imbecilidade). Sim eu havia me transformado no ser mais fanático da face da Terra e iniciei um processo de “emburrecimento” cada vez maior.
Quando eu contei na minha casa que agora eu era evangélico meus pais quase morreram de susto, meu pai ficou totalmente desnorteado, brigava comigo, falava absurdos, dizia que eu não devia fazer isso com a minha vida. Eu no auge da minha pretensão pensava comigo “na terra passarás por perseguições, mas o reino dos céus a vós está guardado” (existe coisa mais ridícula que isso, abrir mão de viver a vida aqui pela esperança em algo que ninguém sabe se existe ou não). Acho que esse foi o momento em que meu pai mais foi presente em minha vida.
Não seria tão fácil assim ser crente, porque certas coisas não mudam (se é que exista algo que mude). Por mais que eu não quisesse pensar em homens e no que eles representavam para a minha libido os pensamentos continuavam a vir cada vez mais fortes. Se bem que no começo foi fácil controla-los o que com o tempo tornou-se impensável, mas ainda não chegamos lá.
Cheguei na casa do Daniel e antes que eu pudesse dizer uma palavra sequer ele me disse que tinha uma caixa no carro dele com algumas coisas minhas que estavam na casa da Paty e que ela havia mandado me entregar. Descemos no elevador sem falar uma só palavra, chegamos no carro ele me deu uma caixa com roupas, CDs e outras coisinhas. Senti um misto de tristeza e alívio na hora.
Depois que ele me entregou as tais coisas eu imaginei que poderíamos enfim conversar para que tudo fosse esclarecido entre nós e novamente antes que eu pudesse falar uma única palavra ele disse “acho que você está atrasado para a sua aula”, assim seco, foi a forma que ele arranjou para me dizer que eu devia ir embora porque não tínhamos mais absolutamente nada para conversar.
Eu queria mudar a minha vida, mas não queria ser expulso da vida dos outros. Fiquei pensando em como era a nossa amizade no ano anterior e em como tudo havia acabado. Fui para a Federal achando que tudo aquilo tinha alguma ligação com a minha conversão, contei para a Tatiana que disse para eu não ficar triste e que agora uma nova fase da minha vida havia sido iniciada.
Só para deixar todos aqui situados, isso aconteceu em agosto de 1997 há cinco anos. Depois de tudo isso eu decidi que se eu agora era evangélico e seria não por passatempo, levaria a coisa muito a sério, às vezes parecendo mesmo um louco desvairado, não eu nunca fui na rua fazer pregações.
No dia seguinte eu sai de casa crente de que eu era uma outra pessoa, que eu não sentiria mais tesão por homens, e que deus estaria sempre ali para me ajudar em tudo que eventualmente eu pudesse precisar, ledo engano o meu.
Eu tive aula aquele sábado como eu sempre tive aquele ano, depois da aula a Tati foi para a igreja e eu fui me encontrar com a Tati, não comentei nada da noite anterior, nada mesmo, mas resolvi terminar tudo com ela, deixar aquilo tudo pra trás, fechar aquele ciclo da minha vida. E foi isso que eu fiz, sabendo que eu não gostava mais dela e que agora que eu teria uma nova vida seria impossível para a gente continuar juntos.
Terminamos pacificamente, sem brigas e com promessas de continuarmos amigos. No dia seguinte a Tati marcou uma espécie de acerto de contas com o Daniel e os dois passaram a tarde toda conversando e claro acabaram falando a meu respeito, ela contou que eu havia me convertido e que também havia terminado com a Paty. Abre parêntese: eu havia dito para a Tatiana que só não contava para o Daniel a respeito da traição da Camila porque ela já sabia a respeito da minha traição com o Marcelo (que na época era conhecido como Marcela pelas pessoas ao meu redor). Fecha parêntese.
E a Tatiana para me defender disse isso ao Daniel que ficou puto com a Camila e comigo também. Nós (eu e a Tati) nos encontramos após o tal acerto de contas para irmos à igreja e foi o que fizemos. Depois do culto eu fui para casa e o telefone toca. Era a Paty dizendo que não queria nunca mais falar comigo, o Daniel contou tudo sobre a tal Marcela para ela e agora ela não queria mais ver a minha cara, ok se eu queria mudanças eu estava as tendo.
Na segunda-feira liguei para o Daniel porque queria conversar com ele, então combinamos de nos encontrar na casa dele. Sai do meu emprego em Guarulhos e fui para o Itaim falar com ele, e é desse dia que data o meu maior arrependimento.
Sentei-me lá no último banco, era um daqueles ônibus em que o último banco é alto, de repente sentou-se um homem ruivo ao meu lado, ele devia ter uns 26 anos e estava acompanhado de um outro rapaz moreno, com a pele branquinha e olhos azuis, fiquei intrigado com a forma em que eles se tratavam que era bem carinhosa. Retomando: eu estava sentado na janela, o ruivo sentou-se ao meu lado e o amigo dele estava em pé conversando com ele. Notei que os dois estavam usando uma aliança e logo pensei que os deviam ser casados, comecei a sentir a coxa do ruivo muito colada à minha eu estava quase sendo comprimido contra a janela, a essa altura eu já estava muito, mas muito mesmo, excitado e não sei porque comecei a tremer feito um louco, eu tremia muito, mas muito mesmo e ele (o ruivo) colocou a mão dele sobre a minha coxa, ele ficava apertando a minha coxa, chegando até a me machucar, mas eu nem ligava. Eu resolvi colocar a mão na coxa dele também que era tão grossa que a minha mãozinha ficava super pequena ao contrário da mão dele que era bem grande e tomava quase conta da minha coxa inteira.
Ele me perguntou se eu estava com medo, e coisas do tipo, o comparsa dele só me olhava, me fitando o tempo todo. O próximo ponto seria o deles, os dois me convidaram para um cafezinho na casa deles, eu hesitei muito, a minha tremedeira voltou, eu me lembrei que o Daniel estava me esperando, então eu não respondi, fiquei ali parado, imóvel sem fazer nada e lógico com a minha tremedeira que eu não sei de onde veio, como eu pude fazer uma besteira dessas? Fiquei olhando os dois no ponto de ônibus, pensando que fiz o certo agora que eu era um servo do senhor (como eu fui cretino) e fui encontrar o Daniel.
Eu ainda namorava a Paty quando fui à igreja, mas não disse nada a ela e também não disse nada a ninguém porque estava com muita, mas muita vergonha de ter ido e pior ter gostado. Comentei sim com o Silas, o tal do crente que trabalhava comigo lá, disse que havia ficado curioso em relação à bíblia e as coisas que as pessoas de lá acreditavam e foi ai que ele me deu um livro que na verdade era o Novo testamento da bíblia para eu ler.
Acho que li os quatro evangelhos em uma única semana e sempre comentava as coisas que eu havia lido com a Tatiana que aproveitava a deixa para falar um pouco mais a respeito de Jesus para mim. E “tudo era apenas uma brincadeira, e foi crescendo crescendo crescendo me absorvendo.... e de repente me vi assim completamente Seu”
Na sexta-feira desta mesma semana nós (eu e a Tati) fomos numa outra igreja que era bem diferente em relação à dela. Essa igreja (Pedra Viva) era composta predominantemente por negros, o que a tornava bem interessante porque as músicas tocadas no louvor eram acompanhadas por uma batida fantástica que fazia com que se tornasse impossível ficar ali parado no mesmo lugar como uma estátua.
Para quem não conhece um culto evangélico, ele é composto pelo louvor, uma pregação e depois um apelo. O louvor era a parte mais divertida, ainda mais no Pedra Viva onde como eu já disse a batida era muito boa, depois vem a pregação onde o pregador defende a sua interpretação para algum trecho da bíblia e por fim o apelo onde eles chamam as pessoas a aceitar Jesus em suas vidas, prometendo mudanças e tudo o mais.
E durante o apelo eu comecei a me lembrar de quando eu era criança e várias outras coisas que eu já havia vivido, lembrei das promessas que o pregador disse que deus fez aos seus filhos, pensei em como a minha vida havia mudado nos últimos tempos e em como eu estava enjoado dela, pensei que se eu terminasse com a Paty eu não teria mais amigos e pensei muito a respeito do fato de eu gostar de garotos, me questionei porque, me lembrei de quando eu fui molestado quando criança, achei que eu talvez precisasse de ajuda para mudar tudo na minha vida que me perturbava. Vi aquela opção de aceitar Jesus como uma mudança para tudo que eu já estava enjoado na minha vida, e foi exatamente o que eu fiz, aceitei Jesus.
Ela é bamba
Ela é bamba essa preta do pontal
Cinco filhos pequenos pra criar Passa o dia no trampo pau e pau
Ainda arranja um tempinho pra sambar Quando cai na avenida ela é demais
Todo mundo de olha ela nem aí
Fantasia bonita ela mesmo faz
Manda todas não erra a mira
Mãe, Passista, Atleta, manicure, diplomata
Dona da boutique, enfermeira, acrobata
Ela é bamba Ela é bamba Ela é bamba
Ela é bamba Ela é bamba Ela é bamba
Ela é bamba essa índia da central
Vai no ombro um cestinho com neném
Oito quilos de roupa no varal
ainda vende cocada nesse trem
Toda sexta ela fica mais feliz
Vai dançar numa boate do jaú
Faz um jeito e já pensa que é atriz
Cada dia inventa um nome
Dona Isaura, Emília, Terezinha e Marina
Ana Rita Joana Iracema e Carolina
Ela é bamba
Ela é bala a mestiça é todo gás
Cada braço é uma viga do país
Abre o olho com ela meu rapaz
Ela é quase tudo que se diz Quando compra uma briga ela é demais
Vai no groove e não deixa desandar
Ela é pop ela é rap ela é blues e jazz
E no samba é primeira linha
Laura, Lígia, Luma Lucineide, Luciana
Quer seu nome escrito numa letra bem bacana
